[:pt]O irlandês que quer ajudar a economia portuguesa[:]
[:pt]Paul Boyce e João Vasques têm pouco que ver um com o outro. Nascido numa pequena aldeia irlandesa e formado na Universidade de Leeds há mais de 20 anos, Paul tem uma paixão avassaladora pelo mar e o surf. João, por seu lado, começa a dar os primeiros passos depois da passagem pelo Instituto Superior Técnico, onde estudou Engenharia de Redes de Comunicações.
À partida, seria pouco provável que os dois acabassem a trabalhar juntos na criação de um novo negócio, mas a verdade é essa. Depois de um fim-de-semana onde se juntaram ‘por acaso’ num grupo de trabalho, saíram com uma nova equipa – da qual fazem parte outros dois antigos estudantes do IST, também desconhecidos até então – e direito a um espaço na incubadora de empresas Startup Lisboa durante três meses.
A história que os une começa ainda antes do workshop intensivo de três dias sobre metodologia Lean, o Lean Startup Machine, que decorreu em Lisboa nos dias 28, 29 e 30 de setembro. Para Paul, participar no evento era “uma ótima forma de estabelecer relações dentro da comunidade Startup”.
O engenheiro, acabado de chegar à capital, veio para Lisboa porque quer “ajudar a criar novas empresas”. “Estou muito interessado em Startup’s e, como Lisboa me deu uma casa, esta é a minha oportunidade de retribuir… e aproveitar para ajudar a economia portuguesa. É uma troca justa”, afirma.
O amor pela cidade foi daqueles à primeira vista: “Vim a Lisboa pela primeira vez em 2009, procurar ideias para novos negócios. Ia estar cá uma semana, mas depois de quatro dias só pensava que queria viver aqui. Nesse fim-de-semana, mudei-me para um apartamento e fiquei durante três meses.” Foi o que bastou para Paul se “apaixonar” pela cidade. “Toda a gente sai da Irlanda à procura de um novo lugar a que possa chamar ‘casa’. Para mim, esse lugar é Lisboa.”
Em setembro, apenas um mês depois de se mudar definitivamente, teve a oportunidade de fazer o Lean Startup Machine e aproveitou. “Esta abordagem tem princípios que são muito relevantes para começar novas empresas. Ajuda a testar as ideias muito cedo e de forma muito rápida, a falar com clientes numa fase muito precoce do projeto e, assim, a diminuir os riscos de falhar. Fazer este workshop era ideal para pôr estes conhecimentos em prática e conhecer novas pessoas.”
Para João, a aprendizagem desta metodologia era um desvio ao caminho tradicional seguido pela maioria dos novos engenheiros, de trabalhar numa grande empresa. “Não queria fazer o percurso standard”, refere, acrescentando que já tinha “ideias de criar uma empresa ou trabalhar numa startup”. “O workshop tinha uma abordagem diferente e fui para lá com intenções de aprender.”
Os dois acabaram por formar uma equipa, da qual também fizeram parte Luís Correira e Henrique Ferreira, os outros antigos alunos do IST, e fecharam o fim-de-semana como um dos grupos vencedores, com direito a aconselhamento e espaço na Startup Lisboa durante a fase inicial de desenvolvimento de um novo projeto.
Esse projeto, que ainda está em “modo de pesquisa”, deverá crescer na área de software para empresas, mas as ideias estão longe de estar perfeitas: “Um dos princípios básicos da abordagem Lean é a de que a primeira ideia que se tem está, provavelmente, errada. Mas é um começo…”, explica Paul. “É um processo que demora algum tempo mas no final esperamos ter uma ideia de negócio muito boa.”
Por agora, os quatro engenheiros vão desenvolvendo os seus próprios projetos, mas esperam ter novidades nas próximas “12 semanas”. Enquanto Luís e Henrique se mantêm nos seus empregos, João conseguiu um estágio e Paul aproveita a vida lisboeta. “Hoje os negócios estão à distância de um clique”, lembra o irlandês, que dirige o seu projeto FoodAdo.com, uma plataforma para venda de produtos gourmet, a partir da capital.
Por isso mesmo, acredita que “Lisboa pode ser o Silicon Valley da Costa Oeste da Europa”, o grande centro empreendedor europeu. “Há ótimas universidades aqui, pessoas com imensa capacidade técnica e muita criatividade, juntas num espaço pequeno.” E esse espaço, na opinião de Paul, faz com que as pessoas se ajudem umas às outras. Além disso, Lisboa não está “assim tão longe” de outros grandes centros de Startups: “Os grupos de Venture Capital [cujo objetivo é financiar novas empresas] vão onde houver grandes ideias de negócio, e daqui a Londres são duas horas e meia de avião. É como apanhar um comboio para Birmingham.”
Para o futuro do grupo, olha com otimismo: “Como equipa funcionamos muito bem. Vamos começar devagar e crescer progressivamente. Não há razão para não construirmos um ótimo negócio internacional baseado aqui, em Lisboa.” E também acredita no sucesso do país, onde “quase toda a gente é bilingue [fala inglês], o que ajuda a lidar com clientes em todo o mundo”. “Há muitos projetos muito bons que já estão a colocar o país no mapa – e a maioria das pessoas que o fazem são portuguesas, por isso já se estão a ajudar a si próprias.”[:]